sábado, 10 de agosto de 2013

O décimo quinto

Texto altamente sentimental e enorme, desabafo.

15 anos sentindo que o dia dos pais não deveria existir, 14 anos (no primeiro eu tinha meses) dizendo que não machuca, não doí, 15 anos em que minha família simplesmente não comemora o dia dos pais por não querer lembrar. Deixem-me explicar. Quando eu tinha apenas 1 mês, minha mãe e meu pai com um RN em casa, minha mãe acabando de descobrir a maternidade, meu pai acabando de descobrir a paternidade, chegou um circo na cidade, e meu pai como amante de circo, Ayrton Senna e futebol, foi ver, afinal, que jeito melhor de alegrar-se? Minha mãe ficou em casa com o bebê que chorava mais que tudo, que hoje é a pessoa que vos fala, e na volta do circo, ocorreu um acidente, e meu pai teve traumatismo craniano, pouco menos de 1 ou 2 meses antes do aniversário dele, 10 meses depois de saber que ia ser pai, ficou em coma algum tempo e morreu. Nunca quis saber mais da história, para mim sempre foi isso e fim, não sei se estava bêbado, se quebrou leis de trânsito, se poderia ter evitado, se foi vítima, causador, só sei disso, que era MEU pai, da sua única filha, marido da minha mãe, que virou viúva antes dos 30, filho da minha avó Isabel, que tinha perdido o marido também pouco tempo antes, que ficou viúva e perdeu o caçula, seu tão doce rebento. Nunca ouvi palavras ruins sobre meu pai, todos que o conheceram dizem que pareço muito com ele, já choraram me olhando e lembrando de como ele era, já escutei tantas histórias que cortaram meu coração porque eu queria ter conhecido ele, afinal, é meu pai, meu herói, que poderia ter visto pelo menos o primeiro sorriso, ou escutado a primeira palavra, que foi "PAPÁ", assim, sem pai pra se orgulhar, ou competir com a mãe gritando pro bebê "PAPÁ" "MAMÁ", e durante muito tempo foi a única coisa que eu falava, repetia freneticamente, rindo e chorando, "PAPÁPAPÁPAPÁ". Imagino a dor que foi para minha mãe, imagino, não posso senti-lá e ao mínimo chegar perto da dor. A família do meu pai inteira logo se responsabilizou por mim, tia Socorro e tia Cristina cuidam de manhã, tia Socorro², tia Ceiça, tia Neide e vovó Isabel de tarde, enquanto mamãe trabalha, mamãe cuida de noite. Viajava diversas vezes para casa de familiares confortadores, e minha mãe costuma dizer até o hoje que se não fosse pelos Jácome não teria sobrevivido, primeiro por não ter com quem me deixar para trabalhar, segundo, por não ter apoio físico e psicológico, e até hoje frequentamos assiduamente a casa da minha família paterna, minha mãe nunca tirou o sobrenome, meu irmão chama todos de tio, tia, vó, que são na verdade postiços, mas a alma sobrepõe o sangue. Ganhei um padastro ainda bem pequena, deveria ter uns 4 anos, e Deus me deu a benção dele ser um homem maravilhoso para mim e minha mãe, um grande pai pro meu irmão, dá a liberdade da minha mãe de falar do meu pai, de chorar por ele de vez em quando, de sentir falta dele, e nunca quis comemoração do dia dos pais nem nada, nunca pediu presente do dia dos pais da minha escola, e faz questão de sempre deixar nosso final de semana do dia dos pais especial, não especial "dia dos pais", mas especial para gente nem lembrar que é mais um sem meu pai, e com meu irmão não foi diferente, eu digo que não me importo, mas ele e minha mãe ficam com um pé atrás sempre, afinal, foi assim por 9 anos antes de Luís. Minha experiencia com dia dos pais sempre foi de final de semana comum, com muita saudade, quando era menor me agarrava a fotos dele e chorava berrando "volta papai, volta", o que deveria cortar o coração da minha mãe que volta e meia deveria chorar comigo, atualmente, eu penso que um dia irei revê-lo, e que tudo que Deus faz tem um motivo, nunca irei entender o MEU pai, justo meu papai ter morrido, antes que eu pudesse abraça-lo e falado que o amava, antes que eu pudesse ao menos falar "pai". E vai saber, afinal, a razão para as coisas do mundo, mesmo sem entender a gente segue em frente, com a certeza de que apesar de tudo, a gente vai sorrir. Feliz dia dos pais para os papais que se foram, que continuam aqui, ausentes, presentes, porque afinal, ser pai não é só dar o espermatozoide, ser pai é ser feito de amor também. Francisco, meu pai, eu o amo, e entendo mais que nunca o Fábio Júnior em sua música, Pai, diz "pode crer, eu vou bem, eu tô indo, tô tentando, vivendo e pedindo, com loucura para você renascer"



6 comentários:

  1. Oi Isabelle! As suas palavras me emocionaram. Só Deus sabe realmente todas as coisas. Por isso Ele cuidou tão bem de vocês e continua cuidando. Feliz dia a dia para vocês! Beijo!

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  2. Joanne, lindo, emocionante e corajoso texto. Imagino a dor ao escrevê-lo.

    Só a gente sabe o que sente por não ter tido um pai. Tantos que o perdem depois de um tempo também. Tantos que não o conheceram por não quererem assumir a paternidade.
    Muitas histórias, cada uma com sua emoção alegria ou saudade.

    Linda atitude do seu padrasto. Muito digno ele. Que Deus o abençoe e abençoe sua dor, a de sua mãe e a saudade eterna de vocês..

    Beijos minha querida!

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  3. Ahhh.. compartilho essa música emocionante com você no Bolhinhas.
    Pra mim a mais triste e bela...

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  4. Minha querida...corajoso esse desabafo. Imagino qão triste possa ser a falta de um pai. Graças a Deus pelo seu padrasto. Que Deus possa sempre confortar vocês...

    Beijinho!

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  5. Obrigada amiga pela mensagem.
    Abraço,
    Toninha
    http://www.educar-oprimeiropasso.com/
    http://toninha-ferreira.blogspot.com.br/

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  6. Aii menina querida... um feliz dia dos pais para o teu PAIdastro.
    Que a vida te traga muitas alegrias. Um beijo grande da Lola
    antonellaesuaboneca.blogspot.com.br

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